Todas as tradições espirituais podem ser destiladas em três categorias simples: o Caminho Progressivo, o Caminho Direto e o Caminho Sem Caminho.
O Caminho Progressivo compreende muitos caminhos; há um Caminho Direto; e o Caminho Sem Caminho não pode realmente ser considerado um caminho.1
O Caminho Progressivo e o Caminho Direto começam com a presunção de separação: a suposição de que cada um de nós é um eu separado em um mundo de objetos discretos e outros. A consequência inevitável dessa crença é a infelicidade interna e o conflito externo. Em resposta a essa crença, o Caminho Progressivo dá ao indivíduo aparente algo para fazer, a saber, focar em um objeto: repetir um mantra, prestar atenção à respiração, praticar ioga e assim por diante. Essas práticas gradualmente purificam o corpo e aquietam a mente como uma preparação para sua subsidência final em sua fonte.
A segunda abordagem, o Caminho Direto, não envolve focar em um objeto. Em vez disso, o eu aparentemente separado é encorajado a investigar o sujeito da experiência, isto é, o próprio eu. Esta investigação – também conhecida como autoindagação – é frequentemente iniciada por uma pergunta como, "O que é que sabe, ou está ciente, da minha experiência?" A pergunta não tem como objetivo ativar a mente, mas sim encorajá-la a relaxar em sua fonte.
Tanto o Caminho Progressivo quanto o Caminho Direto fazem uma concessão compassiva ao eu separado que parecemos ser. O Caminho Progressivo diz, "atenda a um objeto". O Caminho Direto diz, "atenda ao sujeito". Se levadas longe o suficiente, ambas as abordagens culminam com nossa verdadeira natureza: consciência, estar ciente ou simplesmente ser em si.
A terceira abordagem é ainda menos comum que o Caminho Direto. Ao contrário dos dois primeiros caminhos, ela não começa com a presunção de separação. Ela começa com a compreensão da unidade e diz, "simplesmente seja". Além disso, há pouca elaboração, pois o ser não precisa de instrução espiritual. Simplesmente começamos com nossa verdadeira natureza e permanecemos lá. Simplesmente ser é a origem, o caminho e o objetivo. É por esta razão que me refiro a esta abordagem como "o Caminho Sem Caminho".
No Caminho Sem Caminho, não fazemos uma concessão compassiva ao eu separado. É reconhecido que o eu separado é uma ilusão. A atitude subjacente é: Se o eu separado é ilusório, por que dar a ele algo para fazer? Foi nesse contexto que Ramana Maharshi disse: "Não medite; apenas seja".
A experiência de simplesmente ser pode não parecer muito para a mente que conhece o objeto; no entanto, é a meditação mais elevada e a oração definitiva. É o que os mestres Zen apontam quando dizem: "Mostre-me seu rosto original antes de você nascer". É a isso que Jesus estava se referindo quando disse: "Antes que Abraão existisse, eu sou". É o que o Buda evocou em seu Sermão das Flores sem palavras, no qual ele simplesmente ergueu uma flor. É a prática da presença de Deus.
Mais cedo ou mais tarde, todos os ensinamentos, caminhos e práticas se dissolvem no ser. Lá, não há ensino, nem professor, nem prática. Foi esse Caminho Sem Caminho de simplesmente ser que Ashtavakra se referiu quando disse: "A felicidade pertence àquela pessoa extremamente preguiçosa para quem até mesmo piscar é muito trabalhoso".
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