Livro de MIRDAD
Mas Amor não é ligação, e ligação não é aprisionamento?
Não, o Amor é a única coisa que liberta da prisão. Quando amas a tudo a nada está ligado.
Não há outro amor possível senão o amor a si próprio. Mas nenhum ser é real, senão aquele que abrange o Todo. Eis porque Deus é Amor; porque Deus se Ama a Si Mesmo.
Se o Amor vos faz sofrer, é porque ainda não encontrastes o vosso próprio ser, nem achastes ainda a chave de ouro do Amor, pois se amais a um ser efêmero, o vosso amor é efêmero.
O amor do homem pela mulher não é Amor. É algo muito diferente. O amor dos pais pelos filhos é tão somente o limiar do sagrado templo do Amor. Enquanto cada homem não amar a todas as mulheres, e vice-versa; enquanto cada criança não for filho de todos os pais e de todas as mães, e vice-versa, deixai que os homens se gabem de carnes e ossos que se apegam a outras carnes e ossos, mas jamais deis a isso o sagrado nome de Amor. Será blasfêmia.
Não tereis um único amigo enquanto vos considerardes inimigo, ainda que seja de um único homem. Como pode o coração que abriga inimizade ser um refúgio seguro para a amizade?
Não conhecereis a alegria do Amor enquanto houver ódio em vossos corações. Se alimentásseis com a seiva da Vida todas as coisas, menos um pequenino verme, esse pequenino verme sozinho tornaria amarga a vossa vida, pois quando amais alguém ou alguma coisa, na realidade somente amais a vós próprios. Do mesmo modo, quando odiais alguém ou alguma coisa, em verdade odiais a vós mesmos, pois aquilo que odiais está inseparavelmente ligado àquilo que amais, como o verso e o reverso da mesma moeda. Se quiserdes ser honestos convosco mesmos tereis que amar aqueles e aquilo que odiais e aqueles e aquilo que vos odeia, antes de amar o que amais e o que vos ama.
O Amor não é uma virtude. O Amor é uma necessidade; mais necessidade é do que o pão e a água; mais do que a luz e o ar.
Que ninguém se orgulhe de amar. Deveis respirar no Amor tão natural e livremente como respirais o ar, para dentro e para fora de vossos pulmões, pois o Amor não precisa que ninguém o exalte. O Amor exaltará o coração que considerar digno de si.
Não espereis recompensa do Amor. O Amor é, em si mesmo, recompensa suficiente para o Amor, assim como o Ódio é, em si mesmo, castigo bastante para o Ódio.
Não peçais contas ao Amor, pois o Amor não presta contas senão a si mesmo.
O Amor não empresta nem pode ser emprestado; o Amor não compra nem vende; mas quando dá, ele se dá todo inteiro; e quando toma, toma tudo. E o seu dar-se é tomar. Conseqüentemente é o mesmo hoje, amanhã e sempre.
Assim como um poderoso rio que se esvazia no mar é reabastecido pelo mar, assim deveis esvaziar-vos no Amor para quesejais para sempre enchidos de Amor. A lagoa que retém o presente que o mar lhe dá torna-se uma lagoa de água estagnada.
Não há mais nem menos no Amor. No momento em que tentardes graduar e medir o Amor ele desaparecerá, deixando só amargas recordações.
Nem há agora nem depois, ou aqui e acolá no Amor.Todas as estações são estações do Amor. Todos os locais são próprios para serem habitados pelo Amor.
O Amor não conhece fronteiras nem obstáculos. Um amor cuja ação é impedida por qualquer obstáculo não merece o nome de Amor. Sempre vos ouço dizer que o Amor é cego, no sentido de que não vê defeitos naquele que é amado. Essa espécie de cegueira é o máximo da visão.
Desejaríeis se sempre tão cegos que não encontrásseis faltas em coisa alguma!
Não! É claro e penetrante o olhar do Amor. Por isso ele não ve faltas. Quando o Amor houver purificado a vossa visão não vereis jamais nada que não sejam digno de vosso Amor. Só uma vista despojada de Amor, um olho faltoso, está sempre ocupado em encontrar faltas. E quaisquer faltas que encontre serão sempre as próprias faltas.
O Amor integra. O Ódio desintegra. Esta imensa e pesada massa de terra e pedra a que dais o nome de pico do Altar voaria rapidamente para todos os lados se não fosse conservada unida pela mão do Amor. – Mesmo os vossos corpos, perecíveis como parecem ser, resistiriam à desintegração se amásseis com a mesma intensidade cada uma das células que o constituem.
O Amor é paz cheia das melodias da Vida. O Ódio é a guerra ansioso pelos golpes satâncios da Morte.
Que preferis “o Amor para gozardes a paz eterna, ou o ódio para estardes para sempre em guerra?
Toda a terra está viva em vós. O céu e suas hostes estão vivos em vós. Amai, pois, a Terra e todos os seus habitantes, se amais a vós mesmos.
Amai o Céu e todos os seus habitantes, se amais a vós mesmos.
Por que odeias Naronda, Abimar?
(trecho extraído do Livro de MIRDAD – Capítulo 11)
Opmerkingen