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Carl Jung antes de falecer

Trecho do livro, Você não é quem acredita ser


Quando li a autobiografia do querido e sábio Carl Jung eu me deparei com algumas de suas últimas palavras e elas me impactaram, pois me fizeram perceber que mesmo um homem tão sábio e inteligente como Carl Jung, que foi psiquiatra, psicólogo, jornalista e inventor, não conseguiu achar um sentido em sua vida. Jung leu centenas de livros, estudou a maioria das religiões e espiritualidades ao redor do mundo, explorou os sonhos, a mente, e realmente passou dos limites ao explorar a psiquê do ser humano, mas mesmo aprendendo e explorando praticamente tudo que podia, ele chegou a esta conclusão em seus últimos anos de vida:


“Assim, pois, eu me sinto ao mesmo tempo satisfeito e decepcionado. Decepcionado com os homens, e comigo mesmo. Em contato com os homens vivi ocasiões maravilhosas e trabalhei mais do que eu mesmo esperava de mim. Desisto de chegar a um julgamento definitivo, pois o fenômeno da vida e o fenômeno homem são demasiadamente grandes. À medida em que envelhecia, menos me compreendia e me reconhecia, e menos sabia sobre mim mesmo.

Sinto-me espantado, decepcionado e satisfeito comigo. Sinto-me triste, acabrunhado, entusiasta. Sou tudo isso e não posso chegar a uma soma, a um resultado final. É para mim impossível constatar um valor ou um não-valor definitivos; não posso julgar a vida ou a mim mesmo. Não estou certo de nada. Não tenho mesmo, para dizer a verdade, nenhuma convicção definitiva a respeito do que quer que seja. Sei apenas que nasci e que existo; experimento o sentimento de ser levado pelas coisas. Existo à base de algo que não conheço. Apesar de toda a incerteza, sinto a solidez do que existe e a continuidade do meu ser, tal como sou.

O mundo no qual penetramos pelo nascimento é brutal, cruel e, ao mesmo tempo, de uma beleza divina. Achar que a vida tem ou não sentido é uma questão de temperamento. Se o não sentido prevalecesse de maneira absoluta, o aspecto racional da vida desapareceria gradualmente, com a evolução. Não parece ser isto o que ocorre. Como em toda questão metafísica, as duas alternativas são provavelmente verdadeiras: a vida tem e não tem sentido, ou então possui e não possui significado. Espero ansiosamente que o sentido prevaleça e ganhe a batalha.

Quando Lao-Tsé diz: “Todos os seres são claros, só eu sou turvo”, exprime o que sinto em minha idade avançada. Lao-Tsé é o exemplo do homem de sabedoria superior que viu e fez a experiência do valor e do não valor, e que no fim da vida deseja voltar a seu próprio ser, no sentido eterno e incognoscível. O arquétipo do homem idoso que contemplou suficientemente a vida é eternamente verdadeiro; em todos os níveis de inteligência, esse tipo aparece e é idêntico, quer se trate de um velho camponês ou de um grande filosofo como Lao-Tsé.

Assim, a idade avançada é... uma limitação, um estreita- mento. E, no entanto, acrescentou em mim tantas coisas: as plantas, os animais, as nuvens, o dia e a noite e o eterno no homem. Quanto mais se acentuou a incerteza em relação a mim mesmo, mais aumentou meu sentimento de parentesco com as coisas. Sim, é como se essa estranheza que há tanto tempo me separava do mundo tivesse agora se interiorizado, revelando-me uma dimensão desconhecida e inesperada de mim mesmo”.


Lendo essas palavras podemos sentir que ele encontrou sim sentido quando aceitou a vida, quando se rendeu a ela, pois percebeu que tudo o que ele era, que sempre foi e que precisava sempre esteve com ele, ou seja, chegou à conclusão de que simplesmente existia e essa era a única certeza que poderia ter, e que o mundo, apesar de caótico, é uma beleza divina. Podemos ver que, para Jung, a consciência tinha um significado cósmico a partir do qual o universo reconhece a si mesmo; é o criador criando uma criatura que se torna consciência da sua própria criação. Esse parece ser o “propósito” metafísico de cada ser humano, pois quando uma criatura humana desperta e está engajada em reconhecer a verdade e viver sua vida mundana, todo o universo conspira a seu favor, a cada passo, momento e sentimento. Portanto, no meio de toda essa informação em relação a Carl Jung, o que me tocou o coração é que, independentemente do quanto aprendamos sobre tudo e do quanto exploremos, o significado da vida está em simplesmente ser, sem mais nem menos.



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