A história do Casamento, Por Adyashanti
- Willy Mouna

- há 3 dias
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Quero finalizar contando uma história. Existem certos momentos na vida que parecem corporificar o que compreendemos. Para mim, só houve um momento assim - é quase como se para mim toda a jornada espiritual fosse sintetizada nessa experiência espe-cífica. Aconteceu em um casamento. Era uma grande celebração, em um ginásio. A cerimônia já havia sido realizada, e todos estavam sentados para o jantar. Estávamos todos comendo juntos, conversando e nos divertindo muito. A energia era realmente maravilhosa e calorosa.
Tendo a ser a pessoa que come mais rapidamente que conhe-ço, e, como de costume, bem rapidamente fui em direção ao buf-fet para me servir pela segunda vez. Fiz meu prato com todo tipo de coisas deliciosas, virei-me e olhei para o ginásio repleto de pessoas. Sempre achei que os casamentos fossem fotos instantâneas da humanidade. Vi os noivos, e eles estavam tendo um momento maravilhoso. Vi as crianças correndo e brincando. Vi os pais ansiosos, tentando controlar seus filhos. Vi as pessoas bem idosas. Vi uma síntese de toda a condição humana.
Naquele momento, subitamente compreendi que eu jamais veria a vida como a maioria dos seres humanos a vê. Foi como se naquele instante eu sentisse que alguma coisa dentro de mim estivesse deixando completamente a condição humana. Ver as coisas a partir de uma perspectiva convencional tinha acabado para mim; terminara. Esse entendimento foi acompanhado de certa nostalgia. Havia uma parte em mim que pensava: "Nem tudo é sofrimento; não é de todo ruim. Existem momentos maravilho. sos. Aqui estou eu neste casamento, e há todas essas pessoas incríveis interagindo de formas diferentes". Mas naquele instante vi que a maneira como a maioria dos seres humanos via o mundo não era mais a forma como eu o via. E eu sabia que jamais o veria novamente daquela maneira. Seja o que fosse que tivesse aconte-cido, não haveria retorno.
Mesmo que eu quisesse retornar e ver as coisas como costumava vê-las, não poderia fazê-lo. De alguma forma uma ponte fora cruzada e, ao cruzá-la, fora queimada. Houve somente aquele momento de hesitação, aquele momento de nostalgia, e fechei os olhos e me permiti sentir aquilo. Quando os abri, a nostalgia tinha passado.
De repente, lá estava eu, de pé, segurando meu prato de comida naquele casamento, e houve a percepção de que, embora eu não visse as coisas da forma como a maioria das pessoas ao meu redor via, era o que era. Essa é a vida, e ela é absolutamente mara-vilhosa, surpreendentemente bela. A única coisa que me restava fazer era caminhar de volta ao mundo. Então, com meu prato na mão, caminhei de volta para a mesma visão para a qual acabara de olhar. E fiz o que todos os outros estavam fazendo, comecei a conversar com esta e com aquela pessoa. Foi um momento de reconhecer o que significava deixar a condição humana, a qual vê as coisas a partir da separatividade, e simultaneamente reentrar na condição humana, caminhar de volta à lida - ver que a vida, assim como ela é, é uma manifestação absolutamente surpreendente de realidade mais profunda.
Daquele momento em diante, a vida como ela é, exatamente como é, sempre pareceu ligeiramente mágica, ligeiramente sur preendente. Mesmo se ela é insana, mesmo quando os seres humanos fazem coisas uns aos outros que são literalmente absurdas, ainda assim sempre houve e sempre haverá a sensação de que este é o único lugar para se estar. Esta é na verdade a terra prometida, do jeito que é, se apenas abrirmos nossos olhos e vê-la.





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