A maior atividade que o ser separado pode fazer
Enquanto nós acreditamos ser um ego, uma entidade separada, então precisamos
viver isso e não ignorar, como muitos neo-advaitas fazem, fingindo que o ego não
existe enquanto seu ego está firme e forte na luta.
A atitude mais nobre e humilde que podemos fazer, é reconhecer que estamos
identificados com o ego e nesse instante, realizar a escolha mais iluminada que
podemos fazer, que é explorar quem realmente somos, quem eu sou, qual é a
fonte da mente, do ego, o que eu essencialmente sou, por trás de todos
conteúdos passageiros em minha mente e experiÊncia.
Existe esse paradoxo do livre-arbítrio na espiritualidade, aonde ao mesmo temo
que falamos que não existe livre arbítrio para um, falamos que existe para outro. A
questão é, o ego vive de escolhas, então, enquanto acreditarmos ser separados,
nós iremos estar imerso no mundo do livre arbítrio e das escolhas, e, já que
estamos ‘’preso’’ nisso, precisamos ter a coragem de realizar a escolha mais
essencial que podemos ter, e, como dito antes, isso é explorar quem eu realmente
sou. Essa é a atividade mais iluminada que o ego pode realizar. Quando nós já
tentamos de mundo no mundo dos objetos, relações, experiÊncias, quando nada
nos trouxe uma verdadeira sensação de significado e alegria, nós percebemos que
precisamos olhar para outro local, é neste momento que olhamos para dentro,
para a essência de toda experiência. O conhecedor de tudo.
Na maioria das vezes, o ego, ao invés de estar olhando para o que realmente
importa e é necessário, está distraído com o desnecessário, o ego, por ser
separado, se sente infeliz e vazio, e por isso passa o tempo todo tentando realizar
atividades que irão o libertar do sofrimento e tentando achar substitutos para para
preencher seu vazio.
Raramente um ser humano para na infância ou na adolescência de dar atenção
aos objetos para investigar a atenção no interior. Normalmente, isso apenas
acontece na fase adulta, quando o adulto já tentou de tudo o que é
comercializado no mundo, e nada funcionou, na realidade, é nesse momento que
muitas pessoas se suicidam, por achar que acabou as alternativas e que Nada
funciona, elas se matam para tentar se ‘’encontrar’’, quando na realidade, havia
uma última alternativa e a única alternativa definitiva, que era explorar sua
verdadeira natureza e reconhecer quem ele realmente é. Esse é o propósito de
todas as religioes, e é por isso que Elas nos acompanham nesse mundo há mais
de dois mil anos. O sofrimento sempre foi algo real, assim como a busca por
Deus, a essência.
Com o passar dos anos, o ser humano começou a realizar que a única atividade
que realmente iria curá-lo de seu vazio e seu sofrimento e que a atividade mais
iluminada que ele poderia realizar era retirar a atenção dos objetos externos em
que procura por satisfação e preenchimento e virar a atenção para si mesmo, para
enxergar esse eu que está infeliz, o ser separado e dividido que acreditamos ser,
não há nada mais importante que isso na vida de um ser humano. Costumo dizer
que uma vida sem uma alma para viver a vida não é uma vida.
E é nesse momento da vida do ser humano que ele começa rastrear, explorar sua
verdadeira natureza, e, maravilhosamente, ele descobre que na realidade não era
o ser separado(ego) que acreditou a vida toda ser. É por descuido, falta de
atenção que essa entidade sobrevivia.
Essa exploração do interior é uma dissolução de nossas aparentes limitações, isso
porque não existe de fato um ego, uma entidade separada e um outro ser
chamado ser verdadeiro, só existe um ser, e esse é a consciência pura(que, na
realidade, não é um ‘’ser’’).
Esse ser verdadeiro, a consciência pura, foi na realidade velada e eclipsada por
inúmeras limitações da mente e que faz com que ela seja temporariamente
esquecida.
Então, nesse processo e estágio, nós investigamos a nossa verdadeira natureza e
isso causa uma dissolução gradual das limitações. Conforme essas limitações vão
sendo percebidas e realizadas, o que era verdadeiro e que sempre foi verdadeiro
começa a ser revelado e reconhecido novamente. Por isso, o despertar da
consciência é mais um relembrar quem realmente somos do que conhecer ou criar
uma nova entidade ‘’superior’’. Só existe um eu superior, e ele jamais deixou de
existir. Mesmo quando estava aparentemente velado pelas limitações da mente.
AS limitações que a mente utiliza são basicamente a identificação com o corpo-
mente-mundo, a mente permanece identificada com um conjunto de pensamentos incessantes e repetitivos e emoções enraizadas e inconscientes. Eu
sou esses pensamentos, eu sou essas emoções, eu sou assim e assado.
Conforme nós exploramos mais a fundo os pensamentos, emoções, percepções e
sensações, nos realizamos que não, eu não sou essas ‘’nuvens’’ voando no céu,
eu sou na realidade o céu que percebe as nuvens. É um fato óbvio, mas por ser
tão simples é despercebido.
Nós somos essa consciência que está consciente dos pensamentos e emoções,
mas eles são vistos e vão embora, e quando eles se vão e desaparecem, eu não
desapareço, assim como as nuvens desaparecem do céu e o céu permanece,
então, nessa realização, eu realizo que eu não posso ser feito de pensamentos e
emoções passageiros.
E se vamos ainda mais a fundo, percebemos que até mesmo as sensações e
percepções do corpo e mente vem e vão incessantemente, mas quando eles
desaparecem, eu não desapareço.
O que sobra, quando tudo se vai, quando nada resta, o que resta?
O campo vazio da consciência pura, ilimitada, imperturbável, indestrutível.
Basta investigarmos a natureza do Eu, para perdermos todas as ilusões que são
sustentadas devido a ausência da investigação e automaticamente esses véus
são libertados.
Foi isso o que Ramana Maharshi quis dizer com a frase; Quando eu me despido
do eu, apenas Eu permanece. Em outras palavras, quando o eu, o ser separado, é
dissolvido de todas suas limitações, apenas o Eu verdadeiro permanece.
O eu do ego, o ser separado, e o eu verdadeiro são na realidade o mesmo Eu,
esse é um equívoco criado por muitos na espiritualidade, não existe de fato dois
eus, apenas a consciência pura e que se torna o ser separado temporariamente,
ou, pelo menos parece se tornar, nascendo como uma forma mental cheia de
limites e condicionamentos.
É a consciência que toma a forma da mente e é na forma da mente que ela parece
limitar a si mesma, mas quando a mente volta para dentro e rastreia sua
verdadeira natureza, ela não acha um ser separado, ela acha a pura consciência,
Ela então realiza; ‘’Eu sou essa consciÊncia, eu sempre fui, eu sou eternamente a
consciência, eu velei a mim mesma com minha própria criatividade.
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